quarta-feira, 12 de junho de 2013

Tom Jobim e Vinicius de Moraes



Poema de Vinicius de Moraes


·       A cachorrinha.
(Vinicius De Moraes e Antônio Carlos Jobim)

Mas que amor de cachorrinha !
Mas que amor de cachorrinha !

Pode haver coisa no mundo.
Mais branca, mais bonitinha.
Do que a barriguinha.
Crivada de maminha ?


Pode haver coisa no mundo.
Mais travessa, mais tontinha.
Quando vem fazer festinha.
Remexendo a traseirinha.



·        A morte do meu carneirinho.
(Vinicius De Moraes)

Não teve flores,
Não teve velas,
Não teve missa,
Caixão também...
Foi enterrado.
Junto a maré.
Por operários.
Mesmos do trem.

A flor do orvalho.
Pendeu da nuvem.
E pelo chão.
Despetalou...
O céu ergueu.
A hóstia do sol.
E o mar em ondas.
Se ajoelhou.

Cortejo lindo.
Maior não houve.
Desse amiguinho:
Lã vestidas.
Com a lã das nuvens.
Todas as algas.
Dois carneirinhos

Os gaturamos.
Trinaram hinos.
No altar esplêndido.
Da madrugada,
E o vento brando
desfeito em rimas.
Foi badalando.

Pelas estradas.

-- Nycollas F. e Júlio.

Vinicius de Moraes


Vinicius de Moraes

Vinicius de Morais



Minha Namorada

Meu poeta eu hoje estou contente
Todo mundo de repente ficou lindo
Ficou lindo
Eu hoje estou me rindo
Nem eu mesma sei de que
Porque eu recebi
Uma cartinhazinha de você

Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque

E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois


Vinicius de Moraes

A Casa

Era uma casa muito engraçada
não tinha teto, não tinha nada
ninguém podia entrar nela não
Porque na casa, não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
Porque na cada não tinha parede
ninguém podia fazer pipi
Porque pinico não tinha ali                     
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos numero zero 

Senho eu não sou digno/ Ai de quem ama

Canção ai de quem ama.

 Quanta tristeza
 Há nesta vida
 Só incerteza
 Só despedida
 Amar é triste
 O que é que existe?
 O amor
 Ama canta
Sofre tanto,
 tanta saudades
 Do seu carinho
 Quanta saudade
 Amar sozinho
 Ai de quem ama
 Vive dizendo
 Adeus, adeus.









Poesia: Senhor eu não sou digno

Para que cantarei nas montanhas sem eco
As minhas louvações?
A tristeza de não poder atingir o infinito
Embargará de lagrimas a minha voz.
Para que entoarei o salmo harmonioso
Se tenho alma um de - profudis?
Minha voz jamais será clara como a voz das crianças
Minha voz tem as inflexões dos brados de martírio
Minha voz enrouqueceu no desespero...
Para que cantarei
Se em vez de belos cânticos serenos
A solidão escutará gemidos?
Antes de ir. Ir pelas montanhas sem eco
Pelas montanhas sem caminho
Onde a voz fraca não irá
Antes ir- e abafar as louvações no peito
Ir vazio de cantos pela vida
Ir pelas montanhas sem eco e sem caminho, pelo silêncio

Como o silêncio que caminha...  
















Eu sei que vou te amar

 Eu sei que vou te amar
Por toda minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
E cada verso meu
Será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que está ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu

Por toda minha vida.

Eu Amei

Eu amei,ai de mim, muito mais
Do que devia amar
Eu chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amar é a coisa mais triste
Quando se desfaz  

A Casa


Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque pinico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na rua dos bobos

Número zero.
·       A Berlim
Vós os vereis surgir da aurora mansa;
Firmes na marcha e uníssonos no brodo;
os heróicos domínios da vingança;
que vos persegue desde Stalingrado.

As mãos queimadas do fuzil candente;
as vestes podres de granizo e lama;
vós os vereis surgir subitamente;
aos heróicos prosélitos do drama.

De início mancha tateante e informe;
crescendo as sombras da manhã exangue;
logo o vereis se erguer, o Russo nome;
sob um sol rubro como um punho de sangue.

E ao seu avanço há de ruir a porta;
de brandemburgo, e não de cala os cães;
e então hás de escutar, cidade morta;
o silencio das vozes alemães.
·       A casa
Era uma casa
muito engraçada
não tinha teto
não tinha nada
ninguém podia entrar nela não
porque na casa
não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
porque na casa
 não tinha parede
ninguém podia
fazer pipi
porque pinico
não tinha ali
mas era feita
com muito esmero
na rua dos bobos

numero zero.

O Bom Pastor

O   Bom Pastor

Amo andar pelas tardes sem som,bandas maravilhosas
com riscos de andorinhas pelo céu
Amo ir solitário pelos caminhos
olhando a tarde parda no tempo
e que vem de asas largas se batendo
como desvendar a vaga penumbra que desce
como sentir o ar em movimento,a luz sem vida
tudo interiorizado,tudo paralisado na oração calma ...

Amo andar nessas tardes ...
sinto-me penetrando o sereno vazio de tudo
como um raio de luz
cresço,protejo-me ao infinito, agitado
para consolar as árvores angustiadas
e acalmar os pinheiros moribundas
desço aos vales como uma sombra de montanha
buscando poesia nos rios parados
sou como o bom pastor da natureza
que recolhe a alma do seu rebanho
no agasalho da sua alma ...
e amo voltar
quando tudo não é mais que uma saudade
do momento suspenso que foi...
como voltar quando a noite palpita

nas primeiras estrelas elaras.
Aquarela

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá



Vinicius de Moraes

A Morte





















A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Vira para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na Vida
A grande esperada!
A desesperada!
Do amor fratricida
Dos homens, ai ! Dos homens
Que matam a morte

Por medo da Vida

Anoiteceu

A luz morreu
O céu perdeu a cor
Anoiteceu
No nosso grande amor

Ah, leva a solidão de mim
Tira esse amor dos olhos meus
Tira a tristeza ruim do adeus
Que ficou em mim, que não sai de mim
Pelo amor de Deus
Vem suavizar a dor
Dessa paixão que anoiteceu
Vem e apaga do corpo meu
Cada beijo seu
Porque foi assim
Que ela me enlouqueceu
Fatal
Cruel, cruel demais
Mas não faz mal
Quem ama não tem paz

Poesias: A galinha da angola e Mar

Poesia:

A galinha da angola:
Coitada
Da galinha
D'angola
Regulando
Da bola
De comer
A matraca
E vive
A reclamar
Que esta fraca:
- To fraca! To fraca!

Mar:
Na melancolia de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço sua s cantigas antigas
Do mar

Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em caricias de água
E  durmo escutando em vão
O silencio

E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte

Da morte
Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...


Vinicius de Moraes


A cachorrinha!


Mas que amor de cachorrinha!
Mas que amor de cachorrinha!

Pode haver coisa no mundo 
Mais branca, mais bonitinha 
Do que a tua barriguinha 
Crivada de mamiquinha? 


Pode haver coisa no mundo 
Mais travessa, mais tontinha 
Que esse amor de cachorrinha 
Quando vem fazer festinha 
Remexendo a traseirinha?
                                                                               (Publicado por: Yasmin Mureb e Gabriel)